Jogos Olímpicos do Brasil em 2016?

09/07/2010 09:39

Como os grandes eventos podem colaborar na diminuição das desigualdades e dos contrastes em nosso Brasil? Vamos exemplificar o contraste de maneira real e metafórica. Recentemente tive de substituir dois documentos, identidade e passaporte. Iniciei o processo de aquisição dos documentos ao mesmo tempo, segundo as normas vigentes e tudo pessoalmente. Para conseguir a 2a via da carteira de identidade, fui à delegacia, preenchi os formulários, paguei a taxa, entrei na fila, entreguei os documentos, levei a foto, entrei na fila, tiraram minhas digitais pelo antigo método da tinta de carimbo, dedo a dedo, em seguida fui ao quintal da delegacia seguindo as setas em sulfites que indicavam o tanque de lavar roupa e, estimulado pela placa, usei o sapólio disponível e retirei o excesso de tinta dos dedos. Após 45 dias, levei o protocolo, entrei na fila e retirei o RG.

Com o passaporte foi bem diferente. Entrei no site da Polícia Federal, emiti a guia, paguei, e marquei uma visita a um shopping em São Paulo para o dia seguinte. Fui atendido na hora marcada de maneira cortês, a entrevista foi rápida, as digitais foram via leitura biométrica, e a foto digital foi tirada na hora. 24h depois, recebi e-mail informando que o passaporte estava pronto. Voltei no dia seguinte, fui identificado pelas digitais e me entregaram o documento. Ou seja, de forma rápida, higiênica e planejada, tirei a 2a via do passaporte em exatos 5 dias. Vale frisar que estamos falando do mesmo país, de um mesmo cidadão e com procedimentos iniciados simultaneamente. Esta comparação de processos escancara as inúmeras diferenças e contradições de nosso país.

 

Possivelmente, os concorrentes no pleito que elegeu o Brasil como sede dos Jogos em 2016 já resolveram pequenos problemas como o da emissão de documentos aos seus cidadãos e outros mais sérios que ainda nos afligem. Por exemplo, temos 10% de analfabetismo, metade da população não concluiu o ensino fundamental, estamos na 75a posição no Índice de Desenvolvimento Humano-IDH, 40% das residências não têm acesso a serviços essenciais, ou seja, 20 milhões de domicílios em áreas urbanas não contam com pelo menos um dos serviços considerados essenciais, como água, esgoto, coleta de lixo e luz. Há convergência de idéias quando se fala que a educação é uma prioridade no Brasil; paradoxalmente, é comum encontrarmos homens públicos dando exemplos de deseducação.

Como aproveitar a evidência que a Copa e os Jogos trazem ao anfitrião para resolver ou diminuir os sérios problemas que ainda temos? Esta talvez seja a grande questão. Em um país com tantas desigualdades e contrastes gritantes, resta-nos a torcida (sem trocadilho) de realizarmos não só eventos bons tecnicamente, mas alavancarmos as outras áreas que pedem socorro e que formam um conjunto fundamental para a conquista do visto de entrada no 1o Mundo. Agora não se trata de ser contra ou a favor; somos todos brasileiros e queremos o melhor para o País. Resta-nos acompanhar e exigir competência, planejamento e transparência. Faltando 7 anos para os Jogos, é lícito ter a seguinte inquietação: qual será o modelo dos eventos que vamos organizar, o da identidade ou o do passaporte? (continua....)